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Café com laranjas

Posted by Gustavo Pitwak on 09:18
Há uns dezoito anos atrás, eu fui apresentado a um dos sabores (prazeres) mais diferentes que já senti na vida, o café.
A primeira vez foi em uma pequena dose, servida em uma xícara de café, mas instante depois, interessado pela bebida, e maravilhado com seu gosto amargo e quente e indignado como isso poderia causar dependência, e ainda assim aguçar o raciocínio?
Mesmo sendo pequeno, sempre achava uma maneira de beber um pouco mais, mesmo que escondido, ainda mais depois de descobrir que estimula ao raciocínio, “- não estou fazendo uma analogia do café a um dependente químico, que isso fique claro desde já”.
Lembro me que da mesma forma aconteceu quando me deparei pela primeira vez com o conceito “capitalismo”, ainda era novo, mas me trazia também a mesma dúvida, de que, como um sabor amargo pode mesmo assim trazer tanta dependência?
Mesmo com quase vinte anos saboreando o café, não me tornei um especialista nele, nem mesmo hoje sabendo distinguir o arábico nacional, do colombiano ou outro importado qualquer, tendo no mínimo minhas preferências, separo bons de ruins, que às vezes nem sempre é o mesmo do agrado para outro. Imaginei que igualmente ocorre na sociedade capitalista, não se tem com precisão como separar bons de ruins, ao menos com tanta convicção, não se tem como formar um bestiário completo, acusar daqui e punir acolá, é um sistema de exclusão, então o maldoso pode ser apenas um bem sucedido no sistema, ou não? Ou sim? Quando falamos de nações imperialistas, como Estados Unidos, ou de países como o Brasil, em ascensão para o desenvolvimento, sopramos pelo lado da hipocrisia política, digo isso porque é claro que existe uma defesa explicita, jogos de interesses, com apertar de mãos frias e metódicas, discursos ensaiados, gestos previamente calculados, e canetas aguçando acordos internacionais pelo bem do progresso e da economia global, resumindo “diplomacia”.
Estimava ser veterinário quando menino, pensando no bem dos animais, em prol da causa deles, mas logo depois, pesquisando um pouco mais, descobri que não se poderia se basear só nisso, e que existiam outras formas de ganhar dinheiro fazendo algo que gostasse, e assim hoje fico imaginando que assim deve também pensar um político em inicio de carreira, entram pelo bem da sociedade (ao menos é a base campanha), mas no final descobrem outras formas de ganhar dinheiro, e que princípios nem sempre somos nós que os moldamos, e que índole e honestidade são coisas de altruístas.
Em todos os campos profissionais ou grupos sociais existem algum tipo desvio de conduta, alguma tipo de pratica ilícita, isto tudo porque a competitividade e a busca capital nos leva a vertigem, é um sistema que estima pela unidade, pela realização pessoal, isso significa que não pelejamos pelo pluralismo, isso é apenas um pretexto, desta forma vivemos em sociedade pela busca individual, “- que irônico, não?”.
O jornalismo que hoje vive de uma sede por resultados, faminta por fatos, grandes noticias, se perde da linha inteligente e acabam desaguando no sensacionalismo de pequenas causas, com certa redundância, ou se prostituindo em boatos e ficção.
A política se argumenta na conjuntura social, mudanças que tragam benefícios para o bem em comum. De um lado direitistas de outro esquerdistas, cpi para investigar sanguessugas, mensalão, dólar na cueca, políticos se defrontando (digladiando) em Brasília em sessões, expondo as mais difundidas idéias ocas, isso porque só ficam no papel, a não ser as taxas tributárias e orçamentos públicos, que parecem “bolo de casa de vovó”, cresce que é uma beleza.
O sistema privado possui grandes empresas, muitas delas quando não sonegam de maneira absurda, conseguem uma licitação pública suspeita e superfaturam, isto sem falar em laranjas e lobistas.
Sempre lembro de uma certa vez, em uma conversa informal no escritório de meu tio, ele reclamando da tributação exclamou: “- Ainda bem que os políticos dormem, é o tempo que nós temos para tirar o nosso”, verdade seja dita, imagine o que seria de nós se ficassem acordados vinte quatro horas por dia?
Deixo aqui então meu apelo final, as nobres copeiras do senado, prefeituras e demais recintos políticos: “- Por favor, reduzam o café!”.
(Gustavo Pitwak)

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Extinto de extinção

Posted by Gustavo Pitwak on 09:31
Ando com vontade de sair da cidade, sair do Estado, seguir em estrada até minha terra, queria não mais ver este trânsito, nem ouvir esse barulho de caos, não de metrópole, mas esse barulho de gente falando, sobre seus “egos”, exaltando suas ostentações, afirmando seus rancores. Acho que pensando assim às vezes teria de fugir do mundo.
Queria um pouco mais de simplicidade, mas eu mesmo me cobro involuntariamente mais e mais, sem me culpar. Eu queria poder sair com os amigos, mesmo que fosse pra conversar, tomar uma erva-mate tererê.
Gostaria de encontrar alguém, pra poder desabafar toda essa incoerência dos hábitos humanos. Certa vez até me deram uma dica dizendo: “você precisa acreditar em alguma coisa, ir a uma igreja, sei lá”, aquilo me soou estranho, mais especificamente este “sei lá”, como se fosse assim, “procura alguma coisa, qualquer coisa”, a fé hoje parece tão simplificada, e comercializada como a qual se oferecem um canapé “pega um”, naquele momento fiquei pensativo, fui indagado á um profano herético, acredito em Deus como uma força superior a tudo, no mais, não tento ficar criando teorias mágicas pra explicar ou persuadir pessoas e mover multidões. Nunca na minha vida me confessei, já é tão difícil acreditar nas pessoas que se pode olhar nos olhos, imagine nas que ficam por trás de um confessionário.
Estou desanimado com esse excesso de hipocrisia, instituições que dizem ajudar, governo que diz construir, igrejas dizendo salvar e até curar, tudo se aproveitando do sussurro desesperado dos humanos, procurando a salvação das suas próprias cabeças. Eu me preocupo com o mundo, mas não me importaria se as catástrofes ficassem mil vezes mais potencializadas sobre o homem, especialmente sobre os paises que praguejam o planeta, afinal “aqui se planta, aqui se colhe”, e nem seria de mau gosto, se voltássemos a uma era glacial, ou, nos tempos das cavernas, quem sabe? Desde aqueles tempos as civilizações passaram por mutações, e evoluções sociais, e logo econômicas, mas nunca um conceito primata poderia expressar melhor o modelo de coletividade, aonde existia uma terra para todos, com grupos (não classes), onde uns plantavam, uns colhiam, outros caçavam, e independente da sua ocupação ou posição social, todo o processo era para beneficiar a todos.
Não defendo bandeiras, ninguém veio deste país, daqui ou dali, todos vieram perante um extenso processo de evolução genética, que diferenciou aparentemente alguns de outros, o difícil é acreditar que mesmo provendo de raciocínio e inteligência, diferente de quase todas as espécies, e que por extinto de reprodução criamos o “amor” e a “família”, por extinto de materno criamos a “infância”, só não entendo, porque se por extinto somos animais que vivemos em grupos e sociedade, existe tanta desigualdade social no mundo, ironicamente deve provir do extinto assassino.

(Gustavo Pitwak)

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Espelho dos inocentes

Posted by Gustavo Pitwak on 09:21
Se existirá um dia um julgamento, será diante ao espelho, ao olhar-se o réu em sua totalidade refletida no espelho dos inocentes, perante o que fez, não existe culpa maior do que a própria imagem, aparentemente pode tentar enganar-se, pode tentar seduzir com idéias, e concepções do idealismo hipócrita, mas nunca falha, pois pune a mente, que é já tão fadada a recriminações.
O homem não acaba com o desumano, porém este o acaba, superficializando o pensamento em nossa sociedade, diferente dos séculos passados, dos grandes inventores, compositores, cientistas e escritores. Mesmo considerando que hoje atingimos um ponto de saturação, o homem pós-moderno se escora na facilidade tecnológica, prostituindo o raciocínio cientifico, que atualmente não duram mais do que uma entrevista, reportagem de jornal ou duas páginas de revista.
As tecnologias são montadas para facilitar nossa vida, mas com o fácil acesso perde se a qualidade da informação, e não se usufrui para a formação intelectual, e sim para criar mais comodidade, na garantia de estar atualizado.
Quando se para e pensa, mesmo que pequenas coisas cômodas, elas formam juntas o conjunto de nossa imobilidade, tanto física como mental dos indivíduos, não subimos mais escadas, usamos elevador, não calculamos de cabeça, usamos calculadora, não andamos mais ao ar livre, vamos à padaria de carro, nem o vidro do carro a gente roda mais pra abaixar, é elétrico, não pensamos mais, assistimos tv e lemos revistas.
Nesse ponto é importante ressaltar que o homem hoje não busca suas respostas na religião ou antropologia, a maior busca dele é por seu ego, o consumismo explicito, vencer hoje em dia, significa ter mais que o outro, ou melhor. A maioria das pessoas acha que estão navegando rumo ao progresso democrático e pessoal, enquanto isso o grande navio segue rumo ao precipício dos hipócritas, se afogando em inveja, ganância e destruição social. Mas sobre o espelho, acredite, passam se anos, mas um dia você se vê, frente a frente, refletindo a imagem triste de seus últimos capítulos irreversíveis, ou a felicidade de ter escrito um bom livro.

(Gustavo Pitwak)

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Os chocolates acabaram

Posted by Gustavo Pitwak on 09:05

Desde que me mudei para o interior de São Paulo, não me conformo com o clima, quase todos os dias do ano são quentes, e só eu sei o quanto me irritei com o calor, o ar abafado, a vermelhidão que o sol deixava e o desgaste físico, o calor exausta muito, ainda mais quando não se tem uma praia por perto, pra deixar os pés enterrados na areia, a maré que vai subindo, enquanto à noite vai caindo, com a lua deitada nas ondas, imaginando me lembra o deslumbre litorâneo nordestino.
Deixando de lado a praia, venho aqui a falar que de uns tempos pra cá, os dias foram diferentes, o tédio em cada canto da casa me distraindo de qualquer inquietude, o suor escorrendo, deslizando como os ponteiros do relógio, roubando-me mais alguns segundos do dia, mas não me importo, sabe, ás vezes é preciso um pouco de melancolia e solidão para se dar valor as coisas boas da vida, como a alegria e onipresença dos amigos.
Sempre me pergunto, se realmente estou descartando as cartas certas? Será que tudo é um jogo? Ou será que já está tudo traçado, após ter nascido é só “deixe a vida me levar”, este que na qual não é o meu dilema de vida, com certeza, e que me desculpe o poético “Zeca”. Ultimamente não ouço mais o som romântico que antes tocava, um momentâneo “stand by me”, nem as flores, os chocolates, ou beijo mordiscado, não tenho mais a quem dedicar essas caricias, por enquanto a certeza é que a cama ainda está sozinha, sem mais espaço pra tanto vazio, se assim se pode dizer. Questiono-me pensando alto: “Em qual rumo estamos indo, se ninguém é de ninguém?”, a relação no século XXI está muito mais complexa, de tanto se tentar simplificar. Vai se entender?
Talvez isso seja uma grande lição de moral, como uma vez ouvi dizer, que “só se sente o verdadeiro sabor do doce, quando se provou do amargo”.
Mas daí eu entro numa reversa indagação, e quando se prova bastante do doce (amor), sem dar o devido valor? Será que terá de se provar do amargo em mesma dose? A verdade é que tenho medo, de um dia acordar e descobrir que acabamos nos frustrando do amor, e que procuremos em outro sentimento a nossa satisfação, já que “sexualizamos” até os objetos inanimados, ás mais intangíveis opções. As pessoas perderam o ponto de referência entre a vida e realizações pessoais, o correto atualmente é desejar, ser, alçar alto, custe o que custar, alcançar o mais longe, mesmo que custem inimizades, o que não é difícil hoje, já que amizade, honra, e honestidade perdeu o valor límpido de tempos atrás.
O amor ficou de lado? Ou ele nos deixou de lado? Perdemos o calor que tínhamos com ele, nosso envolvimento com ele caiu na rotina, e se dissolveu em meio a tanta preocupação com valores capitais, que equiparamos cotidianamente aos indivíduos que nos rodeiam o meio social.
Em contra ponto, mesmo com tanta preocupação com o bem estar, imagino que estamos fadados a pelejar atrás de algo inalcançável, ficando inertes ou sujeitando-nos a mediocridade de nossas vidinhas modernas, a mesma que achamos nos intelectualizarmos, nadando no “mar morto” do superficialismo do século XXI, meio como seguindo a ideologia “zumbis”, vagando e vagando pelo sangue do outro. A gente não tem mais aonde procurarmos por nós mesmo, não á mais “homem” dentro dos homens, nem “mulheres” dentro de mulheres, a não ser no sentido malvado e sexual.
Ao menos nos sonhos posso imaginar que no futuro ainda haverá um suor que possa valer a pena, com os chocolates, as flores, possivelmente na praia, de um lado um amor com amor, que dure ao menos até o Sol se pôr, simples como essa rima.
(Gustavo Pitwak)