0

Um casulo pro futuro

Posted by Gustavo Pitwak on 19:41
Uma voz ressoava rouca pra mim: “- Como você está? Já se decidiu? Vai fazer a diferença hoje? Você não tem mais tanto tempo assim, mas o que escolher será o melhor, o importante é que viver não é difícil, o difícil é...”.
Aquela pessoa estava tão chorosa, a testa franzida a barba grisalha e falhada, os olhos implacáveis reparando no meu rosto, me dizendo que o tempo se passou, me falando que ainda existe uma chance dentro de mim.
São dez e meia da manhã e acordei me sentindo incompleto, sentindo algo ruim, mas feliz pelo que dali em diante estava por vir, como um sabor de chocolate meio amargo. Foi tirando as vendas que a preguiça e o sono me botam que me fez acordar, agora talvez eu tenha um sonho pra me manter acordado, acordei depois de acordado, “reacordando”. Não existe? “Ah! Café ajuda!”
Dizem que são poucos que sentem o gosto da morte e voltam à vida, me senti como essa simples analogia.
Esses dias testaram-me ao extremo, me deixei obscurecer, eu sumi, por segundos não existia, não é apenas com o “bem” e o “bom” que se aprendem, digo isso, porque foi com a cegueira mental e falta de visão de mundo de muita gente, que consegui enxergar além desse mundo de hipocrisia, aprenda com os seus erros, e com os dos outros pra economizar anos de tropeços.
Queria fazer um casulo de borboleta, se esconder por um tempo e só sair quando pudesse voar completo, pronto, todo bonitão por ai, queria eu ter essa opção de poder esquecer o passado que rastejava lento, e feio.
Pra complicar o mundo anda tão moderno, tão “high” e eu ainda não virei um computador, se eu for, por favor, me restaurem. Não devo estar funcionando direito, tantas coisas ainda pra guardar, outras tantas pra processar, e assim por diante, quando essa máquina vai parar, quando vou ganhar um tempo pra esfriar?
O mundo não tem férias nem décimo terceiro e a vida não para pro almoço, e a cada dia que se passa estamos ficando com o saco mais roxo (menos o Collor).
No futuro talvez eu sabia, e nesse presente tudo se confundia.
Fico me lembrando deste sonho, era eu me fitando no espelho, velho e fracassado, dizendo pra mim mesmo: “Viver não é difícil, o difícil é conviver”.
(Gustavo Pitwak)